Curso: “Roberto Rossellini e o cinema dos não reconciliados”

Foto: Paisa

Quando: 13 e 14/05/2016, sexta-feira e sábado, das 17h30 às 19h30

Local: Centro cultural São Paulo – Sala de cinema Lima Barreto

Ministrada por: Luiz Carlos Oliveira Junior

Duração total: 4 horas

Entrada gratuita, retirada de senha a partir de 1 hora antes do evento

O curso se dedicará ao período da obra de Rossellini situado entre os filmes Roma, cidade aberta (1945) e Índia (1956). O palestrante procurará abordar como, em pouco mais de dez anos, Rossellini inventou não exatamente uma nova escola estilística ou uma corrente estética, mas, antes de tudo, um novo olhar, uma nova forma de se entender a realidade e o sentido ontológico das coisas mediante sua apreensão cinematográfica. A revolução rosselliniana não nasce somente de um desejo artístico de ruptura com os métodos consagrados pelo cinema da era dos grandes estúdios: se ele experimenta uma outra forma de fazer cinema, é menos por uma postura modernista de rejeição de um modelo anterior do que por necessidades intrínsecas às suas escolhas criativas, que o fazem perceber a inutilidade das regras da dramaturgia e da representação clássicas – baseadas na homogeneidade sem falhas de um universo ficcional autossuficiente e fechado em si mesmo – em face de uma Europa destroçada pela Segunda Guerra e confrontada a uma realidade lacunar, fragmentária, arruinada, aberta para o heterogêneo e o desconhecido. Uma realidade que não podia ser contornada pelas técnicas de mise en scène convencionais, e por isso forçava sua entrada imediata nos filmes, impondo uma abordagem sem excessiva elaboração ou estilização: era chegado o tempo de um cinema radicalmente denotativo e literal, avesso aos significados secundários, pois debruçado sobre uma realidade tão plena de situações absurdas, impenetráveis, obtusas, que fornecer dela uma interpretação muito estruturada já seria um atentado contra sua complexidade (moral, semântica, política) original. Respeitar a realidade primeira das coisas passava a ser, mais do que uma opção formal, uma postura ética diante do mundo.

            A primeira aula estará focada nos filmes Roma, cidade aberta (1948), Paisà (1946) e Alemanha, ano zero (1948). Contrariando o clichê crítico que toma esses filmes meramente como precursores do neorrealismo italiano, tornando-os peças de museu ligadas a um contexto específico/ultrapassado, o intuito desse primeiro encontro será mostrar como eles representam muito mais que isso e permanecem obras atuais. Rossellini inaugura com esses filmes uma estética do esboço, do desconhecido, do inacabado, justamente numa arte, o cinema, que preza pela preparação, repetição, planejamento, acabamento técnico. São filmes em que o diretor italiano está empenhado em destruir os estereótipos hollywoodianos da representação e os códigos da psicologia mais simplista, para se aproximar da verdade das coisas.

            Na segunda aula, analisaremos os filmes que Rossellini realizou com a atriz Ingrid Bergman, e que trazem um novo entendimento do problema da representação, antecipando a Nouvelle Vague e boa parte do que se convencionou chamar de cinema moderno. Por fim, traremos à discussão o filme Índia, de 1956-9, que mescla histórias ficcionais e registros documentais num grande “livro filmado” sobre a civilização hindu e as transformações da Índia contemporânea.

Entremeando as análises críticas e as exposições teóricas, serão exibidos trechos dos filmes discutidos.

Luiz Carlos Oliveira Junior

Crítico e pesquisador de cinema. Autor do livro A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo (Papirus, 2013). Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sob orientação do Prof. Dr. Ismail Xavier. Ex-editor da revista eletrônica Contracampo. Já colaborou para as revistas Bravo!, Cult, Interlúdio, Paisà e Foco e para o Guia Folha – Livros, Discos e Filmes. Ministrou cursos e oficinas em espaços como Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Cultural São Paulo, CineSESC. Cine Humberto Mauro e Fundação Getúlio Vargas.

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